Terceira Via
Eis que nos deparamos com uma encruzilhada. À nossa frente, dois caminhos: o da esquerda e o da direita. Muitos escolhem aleatoriamente e seguem sem grandes preocupações. Outros, mais cautelosos, ficam conjecturando, planejando e medindo as opções com minúcia. A escolha, seja qual for, exige envolvimento e responsabilidade. Afinal, é por meio delas que chegamos aos lugares onde estamos — bons, ruins ou apenas medianos.
Não há como prever quantas vezes nos veremos diante de uma bifurcação ao longo da vida. E isso, longe de ser um problema, pode ser uma dádiva. Se seguíssemos apenas em linha reta, veríamos o que há à frente com antecedência, o que reduziria a chance de surpresas. Mas são justamente as surpresas que nos mantêm atentos, despertos, vivos. Elas exigem preparo, presença e coragem.
Imaginemos, por exemplo, os relacionamentos amorosos. À nossa frente, duas figuras: uma pessoa que nos ama e outra por quem estamos apaixonados. Às vezes são a mesma, mas frequentemente não. A primeira parece ser a escolha mais sensata, especialmente em momentos de vulnerabilidade. Ser amado é um privilégio, uma necessidade humana. Mas não há fórmula para gerar amor dentro de nós sem que algo externo nos toque. Receber afeto não é o mesmo que sentir amor. E quando esse sentimento não floresce, o que parecia paz revela-se um vazio. A ausência de reciprocidade ecoa como tristeza. A pessoa que nos ama também sofre ao perceber que seus gestos não geram felicidade. Com o tempo, ambos se veem cultivando um jardim sem flores — apenas vasos bonitos e adornos bem posicionados.
Por outro lado, a paixão costuma ser mais fantasia do que realidade. Projetamos sobre o outro expectativas que criamos sobre um ser idealizado. A paixão nos cega, distorce o raciocínio. Amamos o que achamos que vemos, não o que realmente está diante de nós. Ansiedade, desejo, fantasia e projeção se misturam num todo sedutor, irresistível — mas passageiro. Com o tempo, a imagem perde cor, e o que sobra não se parece em nada com o ser que idealizamos.
Esses exemplos são apenas ilustrações. O texto não trata exclusivamente de relacionamentos, mas de escolhas — das bifurcações que surgem em nossa jornada. E é importante lembrar que nem toda estrada termina em uma divisão. Às vezes, podemos seguir em frente. Outras vezes, parar e contemplar. Por que não montar um acampamento e permanecer mais uma estação? Ou, quem sabe, abandonar o asfalto e criar nossa própria trilha pelo bosque? A vida não exige pressa. Ela exige sentido.
Retomando a metáfora dos afetos, talvez exista uma terceira via. Entre a paixão cega e o amor não correspondido, pode haver alguém que simplesmente nos faz bem. Uma companhia serena, uma presença leve. Um amor discreto, silencioso, que não arrebata, mas acolhe. Uma semente que, se cultivada com paciência, pode se tornar uma árvore frondosa. Porque amar é verbo — exige ação, cuidado, tempo.
A terceira via sempre merece atenção. Ela representa o óbvio, o que está próximo, mas que muitas vezes ignoramos ao tentar enxergar o que está longe. Os grandes gênios, os inovadores, os mestres da história, foram aqueles que ousaram imaginar essa terceira via — no pensamento, na ciência, na arte, na vida. Talvez eu esteja apenas propondo isso: uma forma diferente de pensar cada situação. Um equilíbrio saudável entre extremos. Uma alternativa que não nega os caminhos tradicionais, mas os transcende.

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