Broken
Revisitando os Filhos Feios: A Redenção Sonora das Demos Perdidas
Por Paulo Kako Ramos
Aproveitando uma pausa entre as atividades da faculdade e o trabalho na distribuidora, decidi ouvir alguns materiais que venho acumulando há mais de dez anos — gravações, mixagens, testes e fragmentos de ideias musicais que pareciam esquecidas num canto da memória (e do HD).
Para minha surpresa, aquelas produções que sempre considerei abaixo do medíocre até me soaram bem. Talvez tenha sido o vinho que bebi, ou talvez a boa vontade que tem me movido diariamente. Mas o fato é que os defeitos se tornaram menos significativos, e as composições envelheceram com mais dignidade do que eu imaginava.
Claro, tudo ainda está distante do que considero ideal. Tenho me dedicado com afinco aos estudos para aprimorar minha técnica, mergulhando cada vez mais fundo nos conceitos musicais. Porém, para quem cresceu sob a filosofia punk dos anos 1990 e tem como referência estética o black metal e o grunge, desprezar gravações toscas seria uma hipocrisia — ou uma forma disfarçada de timidez artística.
Com paciência e deixando de lado qualquer vaidade egocêntrica, resolvi trazer ao público algumas faixas demo, feitas em pré-produções ou experimentos ao longo da última década e meia. Desde que o livro Teoria Musical – Conceitos e Fundamentos ganhou sua versão definitiva — compilando textos, teses e estudos meus — nada mais coerente do que dar versões definitivas a algumas músicas que ficaram esquecidas. Afinal, foram elas que me renderam a fama de procrastinador e improdutivo.
Expor esse material cru é um ato de coragem de quem não tem mais nada a perder, e dá pouco crédito à opinião alheia. Esses “filhos feios” merecem conhecer a luz do dia, depois de tantos anos nas trevas.
💿 O Primeiro Lançamento
A primeira demo será composta por duas faixas criadas entre 2005 e 2011. Ambas foram gravadas utilizando uma pedaleira Zoom G2.1u como interface de áudio, uma guitarra Ibanez Gio, meu baixo Court B4 fretless, um microfone LeSon P4 e o software Cubase LE4.
Na época, o inglês ainda era meu idioma de composição — aspecto que mudaria pouco tempo depois, ao perceber que me expresso melhor em minha língua nativa. Este trabalho também marca meu primeiro projeto totalmente solo, após encerrar de vez as atividades da banda Heavinna. A dificuldade em encontrar músicos confiáveis e comprometidos me levou a seguir sozinho.
Existe uma versão deste trabalho no YouTube, mas agora será lançado nas principais plataformas de streaming — uma forma de deixá-lo para a posteridade.
🎸 Faixa 1: Broken
Uma tentativa de emular sonoramente algo entre Van Halen e White Lion. Com uma guitarra marcante e estrutura harmônica simples, a letra fala sobre o abandono que sentimos após o fim de um relacionamento ou alguma fatalidade.
Na época, eu ouvia muito hard rock e ainda carregava a influência da minha passagem pela banda Dallas. Mesmo que o resultado final seja tecnicamente precário, foi um dos raros momentos em que consegui extrair o máximo dos equipamentos disponíveis. A versão do YouTube pode ser conferida abaixo.
⚔️ Faixa 2: Children of the New World
Outra versão de Guerra, lançada no single Preto & Branco de 2018, mas originalmente composta em 2005 com os membros da banda. Essa música foi usada em diversos experimentos e é, talvez, a composição que mais representa meu apego à estética dos anos 1990 — época decisiva para meu desenvolvimento cultural.
A versão de 2012, que estará nesta demo, também está disponível em formato vídeo no YouTube.
🎚️ Reflexões Sobre o Processo
Não é a primeira vez que comento que deveria ter aproveitado melhor os equipamentos que tinha em mãos. Durante anos, fui seduzido por fóruns e comentários que fomentavam a aquisição de mesas de som, pedais, periféricos e microfones como condição para produzir algo de qualidade.
Essa obsessão por ferramentas acabou mascarando a ausência de experimentação focada e técnicas objetivas. Ainda assim, aprendi lições preciosas sobre diferentes formas de trabalhar.
À época, a produção caseira ainda era novidade para a maioria. E eu acreditava que precisava seguir determinados rituais para criar algo “realmente profissional”. Hoje entendo que ter algo imperfeito, porém autêntico, é melhor do que perseguir uma perfeição que nunca vem.
🎧 Esses registros, até então negligenciados, são mais que fragmentos musicais — são rastros vivos da minha jornada. E agora, depois de anos nas sombras, estão prontos para ver a luz e ocupar seu lugar na história que construo com notas e ruídos.
😀🙂👏🏾👏🏾👏🏾
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirGostei do som...🤘🏼👏🏼👏🏼..e vc disse que resolveu seguir só.. pois está difícil achar músicos pra acompanhar..se comprometer com o trabalho da Banda... Muitos amigos meus também passam por isso,falta comprometimento !!
ResponderExcluirAbraço 🤗
Fico muito feliz que tenha gostado do som. Sim. Decidi seguir só, não só pela falta de parceria, mas porque alguns eventos bem particulares acabaram por motivar essa decisão.
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