Grunge, black metal e MTV
Grunge, Black Metal e a MTV
Domingo, 03 de agosto de 2025
Não é segredo pra ninguém que a MTV teve grande impacto na cultura brasileira no início da década de 1990. Coincidentemente, eu estava na minha adolescência, e não tinha como não ser influenciado pela programação da emissora, já que as rádios seguiam as mesmas tendências. Para quem não se recorda, essa época marcou o auge do movimento oriundo de Seattle, grosseiramente chamado de grunge. Bandas como Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden, Pearl Jam e tantas outras concorriam com as já populares Guns N’ Roses e Metallica. Outros movimentos também tiveram um revival, como o punk rock, o death metal e o rock inglês. Entretanto, foram as misturas de gêneros que pautaram as trilhas sonoras de filmes e os festivais. Bandas de rap e metal chegaram a gravar juntas — casos emblemáticos como Faith No More, Slayer, Cypress Hill, Ice-T, entre outras — extrapolando os limites até então conhecidos e criando novas camadas sonoras.
Como eu já tocava violão desde os oito anos de idade, não faltaram convites para tocar covers de diversas bandas e com pessoas muito diferentes. Cheguei a integrar uma banda autoral de punk rock chamada Striknina e outra de paródia chamada Los Baga, mas foi o convite para participar da banda Crow que me abriu as portas para o underground. Mesmo não tocando efetivamente nesta banda, fui o baixista de uma reformulação dela chamada Desaster. Após alguns ensaios, saí do projeto para formar a Desecrate, banda que durou alguns meses e buscava uma sonoridade ao estilo Sepultura, Machine Head e Pantera.
O guitarrista da Crow/Desaster então me chamou para integrar a Evocation. Abandonei a Desecrate para me apresentar com a Evocation, com quem gravei a demo Belial’s Land e um ensaio. Pelos mesmos motivos que me levaram a sair da Desaster, também deixei a Evocation, me juntei à Dallas, e depois retornei para gravar um single destinado a uma coletânea belga chamada Sometimes Death Is Better.
O black metal foi o estilo com o qual mais me identifiquei, pois trazia o “faça você mesmo” do punk e o extremismo musical do death metal — o que eliminava qualquer limite de estilo. Embora bandas como Burzum, Mayhem, Emperor, Immortal, Satyricon e Darkthrone tenham definido a sonoridade do black metal norueguês, minhas principais influências foram Samael e Rotting Christ. Contudo, quando formei a In Pace a partir de um projeto de amigos, após uma breve passagem pela Spellbound, bandas como Dimmu Borgir, Covenant e Dissection se tornaram minhas principais referências. Com a In Pace, gravei uma demo no ano 2000 e saí para participar da Shekinnah, voltando à banda por um breve período até formar a Waiftown, que tempos depois se tornaria Heavinna. Em 2024, para experimentar algumas possibilidades, formei a Khramus, tocando uma música inédita e fazendo adaptações de composições da Heavinna, como Caos e Anjo Caído.
Mesmo com esse foco no black metal, minha geração não passou imune às idiossincrasias do grunge e da MTV. Havia uma identificação profunda com a melancolia que emanava de Seattle e que vitimou músicos como Kurt Cobain, Layne Staley, Andrew Wood, Chris Cornell e Mike Starr. Embora pobre, essa “cultura” importada da América ainda tinha aspectos positivos, ao ponto de gerar frutos musicais de valor. A partir dos anos 2000, com a popularização da internet e a banalização dos aspectos mais relevantes da sociedade, tudo começou a ficar meio estranho. Musicalmente, vimos a ressurreição de artistas que pareciam já ultrapassados e que levaram ao limite suas carreiras — Black Sabbath, Motörhead, Iron Maiden, Metallica, Guns N’ Roses, entre tantos outros. Surgiram novos nomes, como Avenged Sevenfold, Gojira, Muse, Mastodon, e outros, mas jamais ocorreu um fenômeno tão diversificado, intenso e disruptivo quanto aquele da época da minha formação.
Não há um ponto específico que conecte esta postagem às demais deste blog, mas ressalto que o que foi relatado aqui, a partir da minha experiência pessoal, está intimamente ligado ao que escrevi antes — principalmente nos textos sobre realização, composição, filosofia e identidade. Se não houver conexão com a vivência diária, os anseios, as frustrações e as possibilidades que temos ao longo da existência, qualquer tipo de cultura se torna inútil. Por mais que não tenha a pretensão de formar nenhum movimento, os textos que escrevo e compartilho neste espaço remetem às escolhas do cotidiano que definem quem somos. Fica sempre o convite à reflexão, ao fomento da imaginação e à possibilidade de movimentação em busca de transcender as barreiras do tempo e espaço.
Abaixo algumas músicas das bandas citadas:
Estava vendo na Internet um quadro "Todo mundo ama, mas você odeia" e alguns disseram Led Zeppelin, Black Sabbath e Nirvana. Eles têm sua importância. Muito provavelmente, se não existisse Black Sabbath, não existiria o Iron Maiden. Cada um com seus gostos, mas sem haver diminuição de banda.
ResponderExcluirCreio que cada uma dessas bandas possui sua importância e juntas elas formam um cenário muito maior. Se não fosse essas paixões e ódios as coisas seriam muito frias.
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