Conceito de arte

Esta é minha primeira postagem neste blog, e pensei bastante sobre o que escrever para inaugurá-lo. Muitas ideias vieram à mente: poderia falar da minha banda, dos livros que tenho lido, dos seriados que acompanho, dos filmes que me marcaram ou até do meu trabalho como assistente administrativo. Mas o tema que prevaleceu foi o conceito de arte.

Não me refiro à arte em si, nem a um tipo específico, mas ao conceito que define a alma de um artista — algo bem mais complexo do que comentar um filme, um disco ou um livro. Tento aqui ilustrar a manifestação genética, o DNA do artista. Talvez seja abstrato demais tentar distinguir um artista genuíno — aquele que transforma tudo o que toca em arte — de um profissional da arte, como um fotógrafo, um ator de novelas, um músico de estúdio ou um artista plástico que vende obras sob encomenda. Ainda assim, acredito que existam peculiaridades psicológicas e morais que ajudam a definir que tipo de artista cada pessoa é.

Talvez viver seja uma luta constante entre fazer o que deve ser feito, o que precisa ser feito e o que nos dá prazer. Essa batalha nos coloca numa emboscada, especialmente para quem deseja seguir a carreira artística, mas precisa dividir sua atenção entre um emprego formal, estudos, família e a dedicação à sua paixão criativa.

Ao nascer, estamos imersos em um cenário sobre o qual não temos controle: financeiro, familiar, profissional. Aos poucos, começamos a sentir, pensar e evoluir. Mentimos para explicar o que ainda não compreendemos. Trocamos o choro e os gestos pela fala, tentando expressar incômodos e desejos. Quando finalmente conseguimos entender e manipular o mundo ao nosso redor, já estamos contaminados por tendências e heranças que nos foram impostas quando ainda éramos apenas rascunhos de seres humanos — sem saber usar o banheiro ou conseguir nossa própria comida.

Com o tempo, nos moldamos conforme as exigências da realidade. Experimentamos sensações desconhecidas, conhecemos lugares novos, pessoas diferentes. O mundo parece um vasto pasto verde onde galopamos nossa eterna juventude. Por ignorância, não valorizamos o que deveríamos. É comum seguir determinados grupos para não se sentir isolado, ou repetir comportamentos alheios para não parecer estranho. Assim nascem as pressões sociais, e os indivíduos passam a ocupar um lugar num contexto maior que a casa dos pais ou qualquer ambiente da infância e adolescência.

Os desafios são muitos, mas as belezas também. E é nesse momento que, acredito, nasce o conceito de arte dentro de nós. É o desejo de reproduzir os sons que ouvimos, desenhar o que vemos, contar as histórias que inventamos e gostaríamos de viver. A arte congela momentos e sensações. O conceito principal surge quando alguém se apaixona por uma manifestação artística e percebe que só ela é capaz de fazê-lo sentir de determinada forma, ou levá-lo a um lugar onde se sente melhor, mais importante, ou com algum controle.

Se não fosse assim, não haveria pessoas que simplesmente não gostam de música, literatura, cinema ou outras formas de expressão artística. É triste saber que alguns nunca pararam para ouvir uma música e lembrar de uma paixão, de uma festa, ou de um sentimento simples. É como não sentir saudade ao ver a foto de alguém que se foi, ou de um tempo que não voltará.

Uma coisa é certa: o conceito de arte nasce quando começamos a entender o que sentimos. Todos somos artistas, porque viver é uma arte. O que lamento é ver que a maioria das pessoas se contenta em ser figurante, buscando apenas se abastecer de coisas básicas e fúteis como dinheiro. Tudo o mais é deixado em segundo plano, como se fosse o preço a pagar por estar vivo — garantir a sobrevivência e acumular bens.

O artista se expõe ao sofrimento para expressar agonia, ama para escrever romances, sonha para criar ficções e morre para que sua arte sobreviva. Sua arte o define. Ela não pode ser roubada nem comprada. É a manifestação mais honesta de seu caráter e de sua dedicação. Os artistas estão num patamar mais elevado, pois vivem, manipulam a vida e são donos de algo só deles: sua arte. E essa não pode ter preço, fim ou qualificação.

 

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