Vaidade
A vaidade é, talvez, a característica mais notória dos seres humanos. Até os atos mais simples carregam em si algum traço de vaidade. No entanto, ela é frequentemente criticada, marginalizada e incompreendida por aqueles que a atacam. O olhar comum costuma reduzi-la à dimensão física, ao consumismo ou ao exibicionismo: demonstrações desnecessárias de beleza, ostentações exageradas de riqueza. Mas a vaidade é muito mais do que isso. Ela é, em essência, a razão de ser de uma pessoa. Um indivíduo sem vaidade seria desinteressante, jogado ao acaso, sem nada a oferecer aos outros ou a si mesmo.
Quem não aprecia a vaidade não pode ostentar cultura, compreender a arte ou mesmo a ciência. Afinal, desde o cozinheiro que prepara pratos elaborados, passando pelo músico que compõe melodias e as executa com perfeição, até as mãos hábeis de um grande cirurgião, todos são movidos pela vaidade. Seja intelectual, profissional ou física, a vaidade é motor das grandes conquistas humanas — e também de seus maiores fracassos. É por isso que ela se conecta diretamente ao conceito de arte: a motivação do artista é a vaidade, a necessidade de se impor diante de uma realidade dura e, por vezes, cruel. Nada é mais recompensador do que ter o talento reconhecido.
Mas como toda característica humana, a vaidade é vizinha de perigos. O excesso pode degenerar em narcisismo ou em sentimentos mais corrosivos, como a inveja. E o que seria pior do que uma inveja alimentada pela vaidade? Nesse ponto, ela se torna destrutiva, expondo o indivíduo a emoções letais. Talvez seja daí que venha sua má fama.
A vaidade, no entanto, deve ser bem tratada. Ela é motivadora de quase tudo e está intimamente ligada à autoestima. Mais do que isso: a vaidade alimenta a autoestima. Ambas são manifestações do ego. O ego produz a vaidade para sobreviver, e a autoestima é o reflexo desse fenômeno. Onde há inveja, não há autoestima; e essa é a encruzilhada que a vaidade pode criar: uma destrói as possibilidades da outra florescer.
Algumas religiões, porém, tentam reprimir o ego, tratam-no como erva daninha a ser arrancada. Mas o ego é a essência intangível do ser humano. Ele reúne características natas, aptidões, paixões e sentimentos. Sem ele, o indivíduo seria vazio, como uma casa sem mobília. Para suavizar essa ideia, os religiosos renomeiam o ego e o chamam de alma. Se todos os fiéis tivessem autoestima em dia e vaidade equilibrada, não precisariam da religião para se encontrar. Por isso, igrejas e entidades religiosas insistem em convencer que o ser humano sozinho não é capaz de nada. A grande falha da religião — e também sua razão de ser — é a promessa da imortalidade da alma, criada para substituir o ego. Mas esse conceito é paradoxalmente melancólico: diminui o ser humano a um fantoche, onde viver é seguir uma cartilha de privações e submissão. O cristão não pode se destacar, não pode sentir prazer em coisas simples como o sexo ou uma reunião entre amigos regada a vinho e boa comida.
A religião tenta padronizar o ser humano, apagando suas ambições e prazeres. Quanto mais o indivíduo acredita precisar de algo externo para ser feliz, mais apático e sugestionável se torna — e isso garante a perpetuação da religião. Muitos preferem ser cobaias, permitindo que lhes arranquem tudo de dentro e os encham de ideias de redenção, culpa e insignificância. Onde tudo que dá certo é atribuído a Deus, e tudo que dá errado é culpa do diabo.
O mundo sem a vaidade dos artistas não seria belo. Sem a vaidade das mulheres também não. Uma pessoa sem vaidade não pode ser bela, culta ou relevante. Não pode ser interessante. Não se deve viver apenas pela vaidade, mas também não se pode ser nada sem ela. Um ser humano vaidoso, equilibrado e proativo pode realizar grandes feitos. Já aquele que renuncia a si mesmo em nome das ideias dos outros constrói pouco, e o pouco que constrói não lhe pertence nem lhe proporciona prazer.

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