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Mostrando postagens de outubro, 2011

Devaneios de consciência

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  Eis que sentimos a angústia de quem perde um ente querido. A dor da impotência invade o corpo quando tentamos, em vão, reverter o inevitável. O ar parece insuficiente para encher os pulmões, enquanto as paredes se fecham como se quisessem nos esmagar. Sufocamos à espera de uma morte que nunca chega, como se ela fosse a única libertação possível. A mente nos trai. O que vemos não é real — ou talvez seja, mas não conseguimos compreender. Estamos expostos à própria sorte, cada vez mais falha, cada vez mais traiçoeira. Buscamos refúgio em músicas antigas, em lembranças distantes, tentando extrair algum prazer que justifique uma existência tão dolorosa. Tentamos estreitar os poucos laços que temos, na esperança de que alguém compartilhe nossa dor. Valorizamos o que não importa, apenas para dar sentido aos dias de agonia. Fantasiamos uma vida melhor, mesmo sabendo que essas ilusões duram pouco. E quando se desfazem, nos resta apenas o vazio. Nossas vidas tornaram-se bizarras. Somos car...

Enxergando o óbvio

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  Uma das maiores dificuldades do ser humano é enxergar o óbvio. Talvez aí resida a origem de grande parte de seu sofrimento: a necessidade de complicar, fantasiar e distorcer aquilo que está diante dos olhos. É raro encontrar alguém com uma linha de pensamento clara e racional, pois o homem já nasce confuso — uma herança genética, talvez. Seu desejo pelo supérfluo chega a ser constrangedor quando comparado às coisas realmente relevantes para sua existência. Não consegue tomar decisões simples sem longas reflexões e, ainda assim, costuma escolher a pior opção possível. Desejar se tornou hábito, mas planejar e agir para conquistar o que se ambiciona continua sendo exceção. Aos poucos, o indivíduo absorve as leis, os gostos e os pensamentos dos outros porque não conhece a si mesmo. Vive à sombra dos que o cercam, incapaz de sustentar sua própria vontade, abandonando ideias racionais por falta de apoio externo. O filósofo chinês Lao Tsé escreveu pensamentos simples e óbvios: um copo s...

As modernas relações humanas

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  As relações humanas sempre foram objeto de reflexão filosófica ao longo das gerações. Pensadores de diferentes culturas buscaram compreender seus mecanismos, suas fragilidades e sua importância para a vida em sociedade. Contudo, ao observarmos o presente, parece que elas não evoluíram com o tempo. Pelo contrário: quanto mais o ser humano se desenvolve social e cientificamente, mais tensas e frágeis se tornam suas conexões. Talvez seja uma característica intrínseca da nossa natureza, mas é evidente que a dificuldade de se relacionar cresce na mesma proporção em que avançam a tecnologia, a fisiologia e a psicologia. Vivemos um crescimento tecnológico sem precedentes, capaz de aproximar pessoas em segundos. Telefones inteligentes, redes sociais e a globalização da internet criaram pontes que poderiam fortalecer laços. Entretanto, paradoxalmente, quanto mais aumenta o poder de comunicação, mais cresce a sensação de solidão e o egoísmo. A mesma ferramenta que permite o encontro também...

Terceira Via

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Eis que nos deparamos com uma encruzilhada. À nossa frente, dois caminhos: o da esquerda e o da direita. Muitos escolhem aleatoriamente e seguem sem grandes preocupações. Outros, mais cautelosos, ficam conjecturando, planejando e medindo as opções com minúcia. A escolha, seja qual for, exige envolvimento e responsabilidade. Afinal, é por meio delas que chegamos aos lugares onde estamos — bons, ruins ou apenas medianos. Não há como prever quantas vezes nos veremos diante de uma bifurcação ao longo da vida. E isso, longe de ser um problema, pode ser uma dádiva. Se seguíssemos apenas em linha reta, veríamos o que há à frente com antecedência, o que reduziria a chance de surpresas. Mas são justamente as surpresas que nos mantêm atentos, despertos, vivos. Elas exigem preparo, presença e coragem. Imaginemos, por exemplo, os relacionamentos amorosos. À nossa frente, duas figuras: uma pessoa que nos ama e outra por quem estamos apaixonados. Às vezes são a mesma, mas frequentemente não. A prime...