Sobre o autor
Kako Ramos é um músico, produtor musical e professor gaúcho com mais de três décadas atuando em diversos seguimentos do cenário musical, basicamente no metal underground. Participou das bandas Dog Is Dead (1992), Striknina (1993), Desaster (1994), Desecrate (1995), Evocation (1996, 1997 e 2015), Dallas (1997), Spellbound (1998), In Pace (1999 – 2001), Shekinnah (2001), Waiftown (2002 – 2003), Heavinna (2004 – atualmente), Xaparraw (2012 – 2013) e Khramus (2023). Nestas bandas tocou guitarra, teclados, contrabaixo e cantou, além de compor diversas músicas, arranjos e produzir alguns trabalhos em estúdio. Estudou com grandes músicos, engenheiros de áudio e produtores musicais do cenário nacional e internacional, o que o preparou para trabalhar em todos os processos de uma produção.
Começou a tocar violão por volta dos oito anos de idade, antes mesmo de entrar para a escola tradicional. Nesta época, Kako vivia na casa dos avós maternos. Com eles frequentava uma pequena igreja evangélica em seu bairro. Lá ele teve contato com os louvores executados basicamente por voz e violão na abertura das reuniões. Isso despertou o interesse em aprender a tocar o instrumento para acompanhar os cânticos, o que não demorou a acontecer.
Seu primeiro instrumento foi um pequeno violão para estudos fabricado pela Gianinni, que sua tia havia ganho como presente de aniversário de 15 anos e acabou o emprestando. Embora este instrumento estivesse danificado pela falta de manutenção e condições inadequadas de armazenamento, nele pode aprender os primeiros acordes com os membros da igreja e os tios que também tocavam. Na mesma igreja, ele recebeu aulas de violão clássico e popular, aprendendo a ler música de forma rudimentar, mas suficiente para o que viria a seguir. Com este conhecimento, passou a estudar repertórios clássicos simplificados através de métodos para teclados, já que o material didático para violão era escasso e quase inacessível em um mundo que ainda não conhecia a internet. Entretanto, Kako Ramos pôde enriquecer seu vocabulário de acordes ao longo do tempo com as revistas de cifras para violão e guitarra, que eram vendidas em bancas de jornal, mesmo que naquelas edições houvesse mais músicas populares do que grandes obras para estudos no violão.
Aos onze anos assistiu à transmissão da festa de premiação do Grammy de 1989, onde o Metallica tocou a música One na íntegra, além de mostrarem cenas da banda em turnê em reportagem complementar. Isso fez com que o menino Kako se interessasse por rock, e principalmente por guitarras, fazendo com que ele desejasse conhecer mais artistas similares à banda de James, Lars, Kirk e Jason. A chegada da MTV ao Brasil no início dos anos 1990 ajudou bastante neste sentido e as rádios FM embarcaram na onda da emissora de televisão norte-americana reproduzindo em suas programações bandas como Sepultura, Motorhead, Black Sabbath, Iron Maiden, mas principalmente as bandas de Seattle como Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden. Programas temáticos começaram a surgir, tanto na TV como nas rádios e o Brasil passou a fazer parte do itinerário de grandes bandas ainda de forma um pouco tímida por conta dos festivais que começaram a surgir. As revistas Rock Brigade,Top Rock e Roadcrew, embora
de forma gradual, não demoraram tanto a circularem nas bancas priorizando as bandas de metal e fazendo a cobertura dos eventos que ocorriam em vários lugares do mundo ao longo de toda a década de 1990.
A partir dos 14 anos, esporadicamente, Kako já dava aulas particulares de teoria musical para vestibulandos ou para quem fosse fazer as provas da Ordem dos Músicos do Brasil com o objetivo de tirar a carteira da entidade. Além disso, participou de algumas gravações e ensaios de bandas covers de Legião Urbana, Nirvana, Ramones, entre outras, que eram bem populares na época, tocando violão, guitarra e contrabaixo como músico de estúdio ou para pequenas apresentações.
Sua primeira banda autoral se chamava Dog Is Dead, mas não chegou sequer a ensaiar com uma formação completa, apenas compôs alguns riffs e trechos de músicas em uma guitarra Jennifer e um amplificador Staner emprestados de um amigo. Nas reuniões com os demais membros, apenas se falava de matérias de revistas e sobre programas de televisão. Eventualmente tocavam riffs e trechos de músicas de outras bandas ou ideias para futuras composições.
Depois surgiu na jornada o punk rock da banda Striknina, com influências de Ramones, Dead Kennedys, Garotos Podres e The Explited, onde Kako tocou guitarra e cantou, mas não chegaram a gravar, apenas participaram de uma rápida apresentação tocando quatro músicas em uma festa organizada por outra banda do underground da região. Neste meio tempo, ele já havia adquirido uma bateria acústica usada, um microfone, um pedal de distorção para guitarra da marca Vetron e outros acessórios em negócios de ocasião. Depois conseguiu adquirir um teclado para trabalhar suas composições com acompanhamentos de acordes e loops de bateria.
Como o metal extremo estava em ascensão na primeira metade da década de 1990, Kako foi chamado para integrar a banda de death metal Crow, mas só participou efetivamente do grupo depois de uma reformulação, quando foi rebatizado provisoriamente como Desaster, fazendo alguns ensaios e participando da composição de alguns arranjos antes de sair por incompatibilidade pessoal e musical com o líder do grupo. Para esta banda, adquiriu seu primeiro contrabaixo, que por problemas elétricos sequer foi utilizado nos ensaios.
Kako montou a banda Desecrate com outros dois músicos para tocar algo entre thrash e death metal com influências de nomes como Sepultura, Napalm Death, Pantera, Slayer e Machine Head. Neste ponto ele já conhecia diversas bandas de vários estilos e havia estado presente em muitos shows no underground da região da grande Porto Alegre. A banda não foi adiante por falta de afinidade musical entre os integrantes e de um convite inusitado que ocorreu em seguida que ajudou na mudança de planos. Neste período adquiriu sua primeira guitarra.
O líder da Desaster havia montado uma banda de black metal chamada Evocation, ainda com os fragmentos musicais da Desaster e da Crow. Para este novo projeto ele convidou um amigo em comum para tocar teclados e através dele, Kako Ramos foi chamado para substituir o baixista da banda e fazer alguns shows que estavam agendados. Logo na sequência, eles
entraram em estúdio para gravar a demo tape Belial’s Land de 1996. Devido aos mesmos problemas que o fizeram sair da Desaster, Kako Ramos deixou a Evocation no primeiro hiato de apresentações e gravações.
Kako teve sua primeira experiência tocando hard rock com a banda Dallas. Por algum tempo participando de ensaios como guitarrista e depois como baixista desta banda no período em que ficou afastado da Evocation. Porém, em 1997, uma proposta muito interessante fez com que houvesse uma tentativa de reunião com os ex-companheiros para a gravação do single Obscurity Worshiper que seria incluso na coletânea europeia Sometimes Death is Better, produzida pela gravadora belga Shiver Records. Mesmo com esse projeto, a Evocation não seguiu trabalhando.
Foi por volta de 1998, devido uma mudança forçada de endereço motivada por problemas familiares, que Kako Ramos conheceu mais a fundo o trabalho do guitarrista sueco Yngwie Malmsteen e passou a estudar seu estilo, pois lembrava muito as estruturas que vira nas composições clássicas quando estudou violão ainda durante a infância. Por influência de novos amigos que conheciam seu trabalho com a banda Evocation, ele voltou ao black metal com a banda Spellbound, mas sequer gravou alguma coisa por não ver futuro no projeto e já estar desanimado com a ideia de tocar, tocar e não chegar a lugar algum.
No mesmo ano, para não ficar completamente isolado, Kako entrou para outra banda de black metal como tecladista convidado. Ela fora montada por amigos do novo bairro por pura diversão. Com a aprovação de um dos integrantes principais, Kako reformulou o projeto e o batizou de In Pace, compondo músicas próprias e reaproveitando riffs antigos das bandas Desecrate e Dog Is Dead. No ano 2000, após fazer uma apresentação na noite da virada de século ainda como quarteto, gravaram o CD demo homônimo. Depois disso o projeto se estabilizou em trio e se manteve assim por cerca de um ano. Por problemas pessoais entre os integrantes, a banda teve um fim prematuro e inesperado com cada integrante tomando direções diferentes.
Em 2001, Kako Ramos ajudou a montar a banda white metal Shekinnah composta por membros de sua antiga igreja que tentavam inovar dentro da comunidade evangélica. Para esta banda compôs algumas canções tanto sozinho como em parceria dos novos músicos. Participou de algumas apresentações e se decepcionou ao perder o controle criativo da banda devido a influências externas. Isso fez com que voltasse por um breve período para a In Pace com o intuito de trabalhar músicas em outro estilo, não o black metal original registrado no CD, mas algo na linha do thrash metal de Slayer e Kreator. Chegaram a fazer shows e compor algumas canções novas, mas logo a banda se separou definitivamente.
Em 2002, aproveitando composições da Shekinnah (banda de white metal) e da segunda fase da In Pace, Kako montou a Waiftown. Com novos músicos para trabalhar no projeto, ensaiou com o baixista e baterista por alguns meses, depois chamou o vocalista da banda Dallas e uma cantora convidada para fazerem os vocais e gravaram o CD demo “The Time” em 2003. Nessa obra o direcionamento musical era um híbrido de hard rock, heavy metal
e rock alternativo, o que mostrava muito das influências iniciais de sua trajetória como músico, mas contemplava os estilos pessoas dos outros integrantes que participavam da iniciativa.
A partir de 2004, a banda passou por diversas formações e foi rebatizada de Heavinna, foi reunida como o trio original e fez uma apresentação junto à Shekinnah, que também contava com nova formação. Neste meio tempo, as mudanças em estilo foram poucas, apenas refletiam as características musicais de cada integrante que entrava para substituir quem saía, sendo que as composições permaneciam basicamente as mesmas que foram trabalhadas ao longo do ano de 2003.
A partir de 2008, com a utilização de computadores para produzir música sendo popularizada, Kako passou a se interessar por produção musical e a usar as novas tecnologias que surgiam de forma experimental para trabalhar suas ideias. Foi quando começou a compilar suas experiências e criou um enorme catálogo de músicas, riffs, orquestrações, ensaios literários com cunho didático e aprimorou suas técnicas na guitarra e no contrabaixo ao explorar ferramentas como Guitar Pro e Cubase.
Neste período entre 2004 e 2008, Kako Ramos tentou reformular a Heavinna sem sucesso enquanto participava de cursos relacionados à produção musical, tanto on line como presenciais tendo como mentores diversos produtores e engenheiros de áudio do Brasil e do exterior, expandindo ainda mais seus horizontes musicais. A Heavinna ficou praticamente inativa por cerca de cinco anos, tendo uma breve tentativa de reunião em 2009 com um novo baterista, mas sem sucesso.
Em 2011, Kako começou a escrever em blogs de música, já que desde 2008 colaborava com sites e revistas eletrônicas sobre cinema, um hobby que adquiriu para preencher as lacunas de tempo após o trabalho convencional em um escritório. Ali manifestou suas teses e ideias sobre diversos temas que extrapolavam a música. Também entrou para o circuito de bandas independentes de diversos países, ajudando em suas pré-produções e fazendo mixagens, além de instruir os músicos em relação às performances em seus instrumentos nos respectivos projetos.
Em 2012, Kako Ramos foi chamado para fazer alguns shows como baixista da banda Xaparraw e participou da gravação do single TV Slave, lançado no início do ano seguinte, mas um acidente de trânsito no deslocamento para um festival fez com que Kako Ramos desistisse de tocar ao vivo para ficar mais tempo com a família e trabalhar em seus projetos particulares. Já haviam se passado duas décadas de dedicação à música e pouco retorno financeiro, o que obrigou o músico a sempre precisar de uma atividade paralela para complementar sua renda, ou seja, nunca houve dedicação total aos projetos musicais.
Foram cerca de três anos estudando e participando de produções independentes de bandas de diversos lugares do mundo como produtor e músico convidado. Chegou a produzir duas músicas da Evocation em uma tentativa de volta comemorativa de duas décadas, mas que não ocorreu por diversas divergências. As músicas são Dark, Flame and Blood e Freezing War,
que foram lançadas em 2015. Neste trabalho ele gravou guitarras, contrabaixos, bateria e fez mixagem e masterização, completaram o trabalho o tecladista original da Evocation e um vocalista convidado.
Já em 2016, Kako Ramos produziu sozinho a música Black in the 90’s, uma versão instrumental lembrando os suíços da banda Samael em seus primeiros álbuns, onde tocou todos os instrumentos e utilizou uma versão compacta de Pro Tools para fazer todo o trabalho. Essa música faz parte de uma coletânea com 14 faixas de vários períodos de sua carreira publicada exclusivamente na plataforma SoundCloud.
Em 2017, Kako organizou aulas de guitarra no Youtube para iniciantes e trabalhou no single Preto & Branco, lançando em 2018 as músicas Guerra e Mãos Nuas, que representavam bem a fase em que interagiu com diversos músicos. Um heavy metal com vocais em português que flertava com as bandas alternativas da década de 1990, mantendo o estilo musical da Waiftown e da Shekinnah. Este foi seu trabalho mais desafiador, pois além de tocar todos os instrumentos, ainda cantou em seu idioma nativo, o que não é tão comum para o estilo. Entretanto, por problemas técnicos e outros eventos, o lançamento das outras seis faixas que comporiam o álbum Preto & Branco foi adiado.
Em 2020, Kako Ramos apresentou ao público a instrumental Céu & Terra, uma pequena amostra de um álbum com mais de duas horas de música, recheado de composições que vão do techno industrial até temas orquestrados narrando um épico sobre a origem do mundo e as diversas abordagens teológicas e filosóficas que o assunto apresenta. Embora não lançados integralmente, o álbum Preto & Branco é o desdobramento da música inicialmente chamada “Batismo”, mas que tem na sequência a música “Teia da Aranha”, que é autobiográfica, assim como as demais deste trabalho. O outro álbum, mais experimental, parte da mesma faixa, mas foca seu desenrolar nos conceitos filosóficos e investe mais no instrumental do que na concepção lírica.
No final de 2023, ele lançou algumas demos de um projeto batizado como Khramus, que trazia uma música inédita chamada Fear and Shadows, além de adaptações das músicas Céu & Terra, Batismo e Guerra, todas com letras em inglês e com uma produção desleixada lembrando o black metal da década de 1990. Isso foi apenas um revival dos trabalhos anteriores deste estilo.
Seu trabalho como produtor musical possibilitou que músicos de diversos países conseguissem organizar ideias em forma de música tendo como colaborador um músico experiente e obcecado por tecnologia, capaz de transformar conceitos abstratos em singles, EPs e CDs de estilos musicais que vão do pop ao metal extremo. Porém, estes trabalhos acabaram adiando os lançamentos da Heavinna, que ficou sempre relegada a um segundo plano, mesmo que as faixas de seu álbum pudessem ser ouvidas nas lives e pequenos trechos em stories, reels e shorts nas redes sociais.
Nestas 3 décadas atuando como músico, produtor musical e professor, Kako Ramos reuniu vasto material didático e gravou inúmeras demos com composições próprias e arranjos para covers. O que o motivou a criar metodologias de ensino para teoria musical, técnicas para guitarra, contrabaixo e produção musical que serão lançados em diversos formatos assim como os álbuns citados.
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