Natal

 

O Natal é irritante porque é inevitável: todos os anos ele está presente, impossível de ignorar. Aprendi certas coisas sobre a vida por conta própria, de forma autodidata. Não foi em livros, sites ou na escola que tive acesso a determinadas informações. Tenho espiado por trás das cortinas que cobrem os bastidores da existência, tentando descobrir o que realmente move o ser humano. Como muitos, observo pessoas que transitam livremente entre a loucura e a genialidade, formando seus conceitos e filosofias.

Com o passar dos anos, o Natal foi perdendo significado para mim. As experiências vividas me mostraram que os momentos dignos de lembrança e celebração estão espalhados ao longo do ano, não concentrados em datas específicas. Foram em dias comuns que conheci as pessoas mais interessantes da minha vida. Afinal, todo dia é comum até que algo especial aconteça. É da natureza dos dias começarem enfadonhos e ganharem valor ao longo das vinte e quatro horas. Mas nessa época de fim de ano, quando olhamos para trás e avaliamos ganhos e perdas, o resultado medíocre de sempre transforma tudo em frustração. Essa rotina cansa, e passo a valorizar cada vez mais os dias comuns.

Talvez por não ter filhos, por já ter passado dos trinta, por estar especialmente solitário nesta época, ou simplesmente porque este Natal caiu em um dia particularmente chato, sinto repulsa pela data. Nada de bom aconteceu hoje que não pudesse acontecer em qualquer outro dia. Tédio, descrença e tristeza se alternam no comando das minhas sensações. Um péssimo Natal para coroar um dos piores anos da minha vida. Não que coisas boas não tenham acontecido, mas as melhores acabaram trazendo sofrimento no final. Restam sete dias até que um novo ano comece. Não tenho grandes esperanças, mas também não acredito que possa ser pior do que este. Pretendo finalizar tarefas que se arrastam há tempos, pois concluir algo já é motivo suficiente para sentir alívio.

Que as causas deste fim de ano ruim morram junto com ele. Que as sementes do fracasso sequem com seus frutos amargos e jamais voltem a brotar, mesmo que suas raízes ainda estejam enterradas profundamente. Continuarei odiando o Natal, mas espero que seja mais por costume do que por convicção. Quero que meus dias sejam felizes e produtivos, mesmo que sejam dias comuns.

Concordo que ter esperança e ilusões pode ser positivo para viver melhor, mas quem escolhe viver de forma real inevitavelmente sofre. A vida, em geral, é tediosa, pois somos passivos ao tédio. Deixamos nossas emoções esfriarem, e isso às vezes ajuda a superar decepções. Incapazes de nos satisfazer por nós mesmos, marcamos datas no calendário para fingir felicidade. Contudo, quem não está feliz vê como isso é patético — e, por estar em toda parte, torna-se insuportável conviver com tal hipocrisia.

Temos que viver cada momento e segurar a onda todos os dias. Assim é a vida: trágica, cômica, falsa, verdadeira. Alternando sorrisos e lágrimas, mas na maior parte do tempo, sem nada de especial.

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