Por que as coisas morrem?

 

Estamos todos juntos celebrando a alegria de estarmos vivos. Depois de uma semana de trabalho ou mesmo em um dia comum, o que importa é a sensação de que tudo parece alinhado, em perfeita ordem. Nessas ocasiões, pensamos que tais momentos poderiam ser eternos. Olhamos ao redor e vemos nossos amigos sorrindo, ouvimos suas vozes, compartilhamos risadas e histórias. O ambiente nos envolve: as paredes, o cheiro no ar, o brilho da noite e todas as sensações que dão sentido humano à experiência. Histórias começam enquanto outras se encerram, e o mais impressionante é que nunca sabemos se estamos vivendo apenas mais um instante ou o último junto daquelas pessoas.

Mas, inevitavelmente, as coisas mudam. As pessoas se afastam, o local perde a vitalidade de antes, e o álcool que antes trazia alegria passa a carregar melancolia. Onde havia muitos amigos, restam apenas alguns conhecidos, com olhares perdidos ou conversas dispersas. Surge a pergunta: para onde foi a alegria de pouco tempo atrás? Fugiu mansamente para outro lugar? É difícil responder. Momentos são únicos, irrepetíveis. As sensações podem retornar, as esperanças se renovar e os amigos reaparecer, mas talvez com outros nomes, outros rostos, outras histórias.

Se não podemos congelar o tempo, manter sempre ao nosso lado aqueles que amamos e viver apenas o que nos dá prazer, ao menos temos o consolo de saber que os momentos ruins também passam. Os dias difíceis se vão, as feridas cicatrizam. Grande parte da vida é feita de rotinas enfadonhas, de períodos tediosos que se repetem sem fim. Muitas vezes, parece um preço alto a pagar para manter certas amizades que já não compensam. Feliz é aquele que consegue conviver pacificamente com as mudanças.

Contudo, esse pensamento não é negativo ou fatalista. Saudade e nostalgia fazem parte de quem somos e ajudam a nos definir. São os momentos de dor e de euforia que nos marcam para sempre. É fácil dizer que devemos aproveitar cada instante porque ele é único; difícil é aceitar a rotina, as tragédias e os desafios que precisamos superar. Nem sempre os fracassos e as feridas são motivos de lamento. Muitas vezes, eles nos obrigam a retomar o caminho, redobrar a atenção, sair da estagnação e transformar a realidade ao nosso redor. O conformismo, ao contrário, gera apatia, depressão e, por fim, morte interior.

A maturidade nos ensina a superar pequenos desafios e a celebrar pequenas vitórias. Todas as grandes revoluções nasceram da tentativa de modificar a rotina. O aprendizado verdadeiro só se adquire com o tempo. A vida se constrói vivendo cada dia, cada ano, passo a passo. Saberemos se nossa existência valeu a pena quando o tempo se tornar escasso e nos restarem apenas fragmentos de memória em um cérebro cansado, sustentando um corpo no auge da decadência. 


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