A influência do black metal na música da Heavinna
Quando comecei a tocar violão, como outrora já dissera, minha única ambição era participar dos louvores da igreja à qual frequentava com meus avós. Pudera, naquela época eu tinha apenas uns sete para oito anos de idade e mal havia ingressado na escola (ou nem ingressara ainda). Porém, conforme tinha contato com a cultura externa à rotina de meus avós, eu ia desenvolvendo novos gostos de acordo com as experiências que passava a vivenciar. Foi assim que tive a oportunidade de tocar em uma guitarra plugada a um amplificador, ambos emprestados de um amigo meu. Não demorou para que eu passasse a tocar nas bandinhas do colégio, tanto como guitarrista quanto como baixista. Pois foi no baixo que me destaquei no underground, a partir da entrada na Desaster, que mais tarde seria o núcleo da Evocation por um tempo.
Minha participação na Evocation, em particular, foi uma experiência realmente importante. Embora tivesse participado de gravações e alguns shows pequenos, foi com ela que fiz meu primeiro registro em uma banda autoral — as demais eram covers ou ensaios mal gravados em fitas cassete. Também foi com ela que fiz uma série de apresentações no inverno de 1996. A gravação da demo Belial’s Land abriu as portas para a banda participar da coletânea Sometimes Death Is Better em 1997, o que rendeu algum reconhecimento na Europa. Entretanto, por mais que em alguns momentos houvesse boa vontade dos integrantes, as mudanças de formação e a instabilidade sempre foram características marcantes da banda. O decréscimo da popularidade do estilo em termos mundiais também contribuíra para uma desmotivação generalizada. Isso fez com que os integrantes se envolvessem em outros projetos — o que foi o meu caso — e a banda se esfacelasse.
Após minha saída da Desaster e a consequente formação da Desecrate, o retorno para tocar com o fundador da primeira e também da Evocation só se deu por influência de um amigo que estava tocando teclado com ele. Nunca houve uma real união em torno da arte praticada pela banda, e sim, apenas nos juntávamos para ensaiar e atender às demandas de shows e gravações que surgiam quase que por acaso. Havia desconfiança entre os integrantes, e qualquer proposta de projeto paralelo parecia mais sedutora do que continuar tocando juntos. Mas, mesmo assim, o que fez a Evocation colapsar foi a relação entre os membros, devido às inconstâncias de ideias e à volatilidade no planejamento. O que garantiu a permanência discreta do nome da banda no underground foi ter parte dos músicos envolvidos no cenário musical e citando as respectivas passagens pela banda. Por sorte, uma versão digital da demo Belial’s Land foi preservada e sobreviveu em sites obscuros de black metal e na biografia dos integrantes nas redes sociais.
A reunião parcial que ocorrera entre 2014 e 2015 gerou duas faixas regravadas, mas que não representam exatamente o que a banda seria se permanecesse ativa no século XXI. Mesmo assim, para mim, particularmente, a Evocation e a cena black metal da metade da década de 1990 são uma influência, pois se trata de algo importante para minha formação. Não só pela música feita e os shows realizados, mas por ter tido contato com outras culturas conectadas pelo black metal, como a norueguesa, a suíça, a grega e de outras regiões do Brasil. Aquele jeito de fazer música de forma rudimentar e quase desleixada, que relembrava a mentalidade punk com a qual também tive contato nos anos 1990, ainda seduz e inspira a trabalhar nas minhas composições e enfrentar a estética atual.
Por fim, o que tenho a oferecer artisticamente atualmente difere muito daquele estereótipo de outrora, pois optei por fazer uma mistura entre o heavy metal e o rock alternativo. Contudo, não é incomum tropeçar em um riff ou linha de teclados que remetem ao black metal aqui e ali. A Heavinna nunca foi uma banda de black ou death metal. Está mais próxima do thrash e até do hard rock. Entretanto, nenhum estilo que tenha tocado fica de fora do cardápio de influências musicais da banda. A arte busca mostrar a visão do artista sobre vários aspectos, de acordo com suas experiências. Sendo assim, certamente há um pouco de Evocation na música da Heavinna.
Abaixo as duas músicas produzidas pela Evocation em 2015:
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