A história por trás do videoclipe de Broken

A perturbadora história por trás do videoclipe da música Broken, lançado pela Heavinna na última semana de novembro, é verdadeira e remonta à década de 1990 em Cachoeirinha/RS. Por motivos de segurança e privacidade, os nomes dos envolvidos foram substituídos por fictícios, o que naturalmente dificulta qualquer checagem dos fatos. Ainda assim, o objetivo deste relato não é jornalístico ou histórico, mas sim didático e cultural.

Broken integra a série de lançamentos que chamo de “filhos feios”, já explicados em um texto anterior, onde detalho aspectos técnicos da gravação (link). A escolha dessa faixa para ganhar um videoclipe não foi aleatória: no momento da composição, a história que inspiraria o clipe estava viva em minha memória, pois eu mesmo atravessava uma situação semelhante. A letra, simples e direta, nasceu da necessidade de expressar sentimentos imediatos, sem grandes elaborações poéticas. Musicalmente, foi uma homenagem às sonoridades de Van Halen e Extreme, ainda que a proposta da Heavinna seja mais pesada.

Antes de mergulhar na narrativa do clipe, é importante destacar um ponto sobre composição. Jovens que decidem montar bandas de rock geralmente começam imitando seus ídolos. Steve Harris, por exemplo, inspirou-se no UFO para criar o Iron Maiden. Lars Ulrich e James Hetfield tiveram no Thin Lizzy uma referência para seguir com o Metallica. A própria Heavinna nasceu como um tributo ao Metallica. Essa admiração pelos “mestres” é o que mantém estilos como o heavy metal vivos de geração em geração. Primeiro vem a emulação, depois — para alguns — o encontro com a “voz interior” genuína. Broken é um exemplo disso: uma composição que explora arranjos de guitarra inspirados em Van Halen e Extreme. Reconhecer influências não é motivo de vergonha, mas sim um gesto de gratidão.

A história por trás do clipe

O videoclipe utiliza uma colagem de imagens gratuitas da internet para narrar a descoberta de uma misteriosa bruxa por três adolescentes: João, jovem negro; Guilherme, ruivo judeu; e Cíntia, loira. Vizinhos, eles tinham o hábito de explorar terrenos baldios e casas abandonadas.

Certo dia, João encontrou uma casa aparentemente desabitada, próxima à avenida principal da cidade. O lugar lhe causou arrepios, como se estivesse sendo observado. Contou a Cíntia, que se prontificou a acompanhá-lo, e Guilherme, apaixonado por ela, insistiu em ir junto. Os três visitaram a casa numa tarde quente de verão e decidiram transformá-la na sede de seu “clube secreto”. Apesar disso, João nunca se livrou da sensação de estar sendo vigiado.

Pouco tempo depois, sua família mudou de cidade e ele perdeu contato com os amigos. Anos mais tarde, já advogado, reencontrou Cíntia pelas redes sociais. Ao mencionar Guilherme, ela desconversou. No reencontro presencial, revelou que João tinha razão em temer a casa.

Segundo Cíntia, numa noite de juventude, ela e Guilherme voltaram ao local após beberem. Foram abordados por uma senhora de cabelos desgrenhados e olhos negros e arregalados, que os convidou a retornar em dia e hora específicos. Querendo impressionar Cíntia, Guilherme levou um taco de madeira e voltou ao encontro. A mulher apareceu acompanhada de vultos que pareciam brotar das paredes. Assustada, Cíntia fugiu, caiu e perdeu os sentidos.

Dias depois, acordou no hospital. Seus pais disseram apenas que a haviam encontrado a quilômetros dali, nua, machucada e amarrada nas ruínas de uma antiga senzala. Descobriu estar grávida e a família optou pela interrupção da gestação. Guilherme jamais foi encontrado. O caso foi abafado e, apesar das buscas, nada foi descoberto na casa.



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