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A transcendência através da arte

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Já escrevi alguns textos onde cito a tal transcendência, e li outros tantos sobre o tema. Isso porque, durante grande parte da minha vida, busquei entender os motivos que me fizeram tão aficionado por música — a ponto de deixar todo o resto em segundo plano. Para se ter uma ideia, aprendi a ler partituras e a tocar violão ao mesmo tempo em que aprendia a ler e escrever na escola. O encantamento começou cedo: fiquei impressionado com os “tiozinhos” da igreja tocando nos louvores e desejei fazer aquilo também. Mais tarde, ao assistir ao Metallica no Grammy de 1989, decidi que queria montar uma banda de heavy metal. A música me seduziu por um sentimento que extrapolava a razão. Naqueles tempos juvenis, eu sequer cogitava uma profissão ou tinha qualquer preferência racionalizada sobre assuntos importantes. Mesmo tendo alguns tios que tocavam instrumentos de forma amadora, a arte — seja música, literatura ou qualquer outra — nunca foi algo valorizado no seio da minha família. Foi a parti...

A forma perfeita de se comunicar

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Quando uma pessoa consegue completar o processo que consiste em contemplar, sentir, interpretar, interiorizar e expressar algo — como uma paisagem, um fato ou algo gerado pela imaginação — de tal forma que outra pessoa consiga apreender com maior precisão o que lhe foi transmitido, ela pode se considerar alguém que realmente sabe se comunicar. Entretanto, entre o objeto a ser transmitido e a percepção de um terceiro, existe um oceano de possibilidades de ruídos e obstáculos que podem truncar, distorcer e até mudar radicalmente aquilo que originalmente se quis compartilhar. Sendo assim, não basta ter habilidade de oratória, síntese ou precisão retórica: quem receberá a informação precisa estar atento e ser culturalmente compatível com quem a transmite. Imagine um japonês tentando informar um russo sobre conceitos complexos em seu idioma nativo. Exageros à parte, o parágrafo acima busca esclarecer que a comunicação depende de diversos fatores e que a linguagem extrapola as palavras de ...

Filosofia, Linguagem e a Alma da Composição

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  Por volta de 2017, iniciei um curso online de filosofia com o intuito de desenvolver habilidades complementares aos meus estudos artísticos. A motivação era clara: enquanto músicos investem tempo e dinheiro em aprimoramento técnico — participando de fóruns, mentorias, aulas e consumindo toneladas de conteúdo especializado — percebi que havia um vazio quando o assunto era conteúdo autoral . Esse investimento técnico resulta, sem dúvida, em versatilidade, precisão e segurança na execução de peças complexas. Muitos desses instrumentistas se tornam virtuoses reconhecidos. No entanto, quando decidem escrever suas próprias músicas, frequentemente expõem uma certa infantilidade conceitual ao abordar temas como ficção científica, esoterismo, espiritualidade, política ou psicologia. O resultado? Obras que, embora tecnicamente impecáveis, soam rasas — servindo mais como portfólio para futuras gigs ou agradando apenas a outros músicos. Os exemplos são abundantes. Admiro profundamente mui...

Porque a letra vem primeiro

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  Em postagens anteriores, falei sobre a busca por uma identidade artística e o reconhecimento da própria história. Embora essas publicações possam parecer independentes, considero a segunda uma continuação natural da primeira — seu complemento. Admiro profundamente artistas que constroem sua arte a partir da estética ou da técnica. Nem preciso citar nomes: eles estão espalhados por todas as minhas referências ao longo dos anos. No entanto, ao revisitar minha discografia autoral — especialmente com In Pace , Waiftown e Heavinna — percebo que essas motivações, por si só, não bastam para que eu me conecte verdadeiramente com minhas próprias composições. Não é uma questão de técnica, produção ou estilo. O que falta é identificação genuína — uma base sólida que represente quem eu sou. Por muito tempo, acreditei que o problema estivesse na minha voz, ou nas diferentes fases em que compus as músicas que hoje estão nos serviços de streaming. Mas entendi que isso tudo são nuances de g...

Qual história você vai escolher viver?

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Se há uma verdade incontestável, é esta: somos fruto de nossas histórias . Antes de completarmos os três ciclos do amadurecimento, percorremos um caminho que começa na completa dependência e evolui até o ingresso na vida adulta. Cada geração enfrenta esse processo à sua maneira, com suas resistências e razões, mas é justamente assim que seguimos avançando: passo a passo, sempre no presente. A cada etapa — a cada dia, mês, ano, década — somos consequência do que veio antes. Essa cadeia de experiências forma a nossa história. É através dela que nos movemos pelo tempo e, mais ainda, é por ela que existimos. Agora, uma provocação: e se o maior cineasta da história dirigisse um filme sobre a sua vida? Ou se o mais brilhante dos escritores decidisse contar sua jornada em um livro? Como essa história seria contada? À primeira vista, isso pode parecer bobagem — e talvez até seja, para quem acorda todos os dias odiando o que faz, esperando apenas que o relógio corra mais rápido. Essas pesso...

A difícil arte de imprimir identidade: reflexões sobre criação autoral

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  Uma das inquietações mais recorrentes entre aqueles que buscam desenvolver um trabalho artístico autoral é, paradoxalmente, de formulação complexa: como injetar personalidade genuína em uma obra? Muitos confundem identidade com elementos técnicos e reconhecíveis, como timbres vocais ou instrumentais, traçado visual, paleta de cores, recorte temático ou nicho de atuação. Ainda que tais traços auxiliem o mercado e o público a identificar um artista, não são necessariamente a expressão de sua personalidade verdadeira — aquela que transita no campo do intangível. Não apresentarei aqui respostas objetivas, pois como se verá ao longo do texto, este assunto é constituído por nuances demasiadamente particulares e sutis para serem enquadradas em uma teoria universal. Considerando que a arte é, fundamentalmente, um tipo de linguagem, pouco importa o refinamento técnico ou a qualidade das ferramentas utilizadas, caso o artista não tenha algo a expressar com honestidade e capaz de gerar co...

Mais um recomeço

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Após quatorze anos desde minha primeira publicação no Blogspot, retorno a este espaço com o mesmo impulso criativo que me motivou no início, mas agora com uma bagagem muito mais sólida. Naquela ocasião inaugural, escrevi sobre o conceito de arte — um tema ambicioso para quem ainda não possuía clareza conceitual nem maturidade estilística. Embora o texto tenha recebido elogios, reconheço hoje que carecia de profundidade e estrutura. Desde então, produzi mais de mil textos, entre rascunhos de livros, resenhas, críticas, postagens em redes sociais e artigos para websites. Considero como fase embrionária da minha escrita os artigos que publiquei sobre filmes e séries, ainda sem padrão técnico ou literário definido. Apesar disso, foram fundamentais para minha formação como autor. Hoje, retorno com motivações semelhantes às de outrora, mas com uma abordagem renovada. O escritor que aqui se apresenta é outro: mais consciente, menos pretensioso e livre das fórmulas e lamentos de um autor imatu...