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Quantas fontes de renda extra se pode ter?

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  Tradicionalmente, as pessoas do meu entorno — e também aquelas com quem tenho contato por meio da mídia ou das redes sociais — mantêm uma única fonte de renda constante, seja emprego formal, sociedade, trabalho autônomo ou comércio. A minha formação cultural não foi diferente: o ideal seria estudar (algo que não fiz a contento quando deveria), arrumar um “bom emprego”, trabalhar por três décadas e, finalmente, se aposentar. Essa lógica predominante, de que dinheiro se troca por tempo, limita as possibilidades. Mesmo que alguns se esforcem em turnos dobrados, a essência continua a mesma: vender horas de vida em troca de remuneração. Eventualmente, alguém vende algo para saldar uma dívida ou obter dinheiro extra, mas raramente isso se torna uma prática recorrente. O impacto da internet Com o advento da internet, um volume gigantesco de informações passou a estar disponível. É verdade que boa parte desse conteúdo é irrelevante — memes, fofocas e teorias absurdas — mas também sur...

A história por trás do videoclipe de Broken

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A perturbadora história por trás do videoclipe da música Broken , lançado pela Heavinna na última semana de novembro, é verdadeira e remonta à década de 1990 em Cachoeirinha/RS. Por motivos de segurança e privacidade, os nomes dos envolvidos foram substituídos por fictícios, o que naturalmente dificulta qualquer checagem dos fatos. Ainda assim, o objetivo deste relato não é jornalístico ou histórico, mas sim didático e cultural . Broken integra a série de lançamentos que chamo de “filhos feios”, já explicados em um texto anterior, onde detalho aspectos técnicos da gravação ( link ). A escolha dessa faixa para ganhar um videoclipe não foi aleatória: no momento da composição, a história que inspiraria o clipe estava viva em minha memória, pois eu mesmo atravessava uma situação semelhante. A letra, simples e direta, nasceu da necessidade de expressar sentimentos imediatos, sem grandes elaborações poéticas. Musicalmente, foi uma homenagem às sonoridades de Van Halen e Extreme , ainda qu...

O Coringa e sua mensagem oculta

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Estava assistindo ao filme Coringa (2019), dirigido por Todd Phillips — uma tarefa que adiei por seis anos — e cheguei a algumas conclusões um tanto polêmicas. Desde já, adianto que o que mais me chamou atenção no longa não foi seu aspecto artístico. Para uma obra que alcançou tamanho sucesso, elementos como fotografia, roteiro, atuação, ritmo e trilha sonora foram, em minha percepção, tratados com certa negligência. O que realmente merece destaque é o apelo que o filme exerce sobre os jovens e a repercussão que teve entre eles. Inclusive, o próprio algoritmo da plataforma de streaming utilizada para assistir Coringa revelou a mensagem subjacente da obra ao sugerir, como conteúdo relacionado, um documentário sobre Charles Manson. A proposta de um Coringa sem Batman soa como uma espécie de “ode ao vilão”. Se em O Cavaleiro das Trevas o antagonista do Homem-Morcego foi elevado a um patamar artístico brilhante pela interpretação de Heath Ledger — que fez emergir um personagem genial a...

Nostalgia ou incapacidade de viver no presente

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  Quando olho para o passado e me recordo das pessoas que se foram — meus avós, tios, tios-avôs, primos, conhecidos, ex-colegas de escola e trabalho — penso no quanto foram relevantes (ou não) para a minha vida e no espaço que deixaram vazio. Mas essa suposta lacuna sequer existe. Como a natureza nos mostra, o vazio não existe de fato, pois o ar costuma ocupar os espaços onde havia um objeto ou uma pessoa. Entretanto, pessoas não substituem pessoas, pois cada ser humano é único na perspectiva de outro indivíduo. Diante de um dilema aparentemente fútil, esconde-se uma armadilha traiçoeira e muito eficaz nos dias atuais. Quem acaba caindo nela — e todos caem em algum momento — é acometido por depressão ou ansiedade. Não à toa, esses são os grandes males do novo milênio. Quem teria armado essa armadilha? A psiquiatria, os psicólogos, a indústria farmacêutica, os políticos, os empresários gananciosos, os líderes religiosos, a indústria do entretenimento — ou todos juntos? A resposta ...

A influência do black metal na música da Heavinna

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  Quando comecei a tocar violão, como outrora já dissera, minha única ambição era participar dos louvores da igreja à qual frequentava com meus avós. Pudera, naquela época eu tinha apenas uns sete para oito anos de idade e mal havia ingressado na escola (ou nem ingressara ainda). Porém, conforme tinha contato com a cultura externa à rotina de meus avós, eu ia desenvolvendo novos gostos de acordo com as experiências que passava a vivenciar. Foi assim que tive a oportunidade de tocar em uma guitarra plugada a um amplificador, ambos emprestados de um amigo meu. Não demorou para que eu passasse a tocar nas bandinhas do colégio, tanto como guitarrista quanto como baixista. Pois foi no baixo que me destaquei no underground, a partir da entrada na Desaster, que mais tarde seria o núcleo da Evocation por um tempo. Minha participação na Evocation, em particular, foi uma experiência realmente importante. Embora tivesse participado de gravações e alguns shows pequenos, foi com ela que fiz me...

Rotina, arte e a busca por sentido

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Você é daquelas pessoas que acorda cedo de segunda a sexta-feira, pega um transporte qualquer e se desloca de casa para um lugar onde deixa cerca de dez horas do seu dia em troca de um salário ? Ou talvez tenha um cômodo em casa transformado em estação de trabalho, onde fica à disposição de uma empresa vinte e quatro horas por dia? Com esse salário, você paga contas, compra comida, roupas, eletrodomésticos — ou qualquer bugiganga inútil que pareça atraente na internet? Começa cada dia torcendo para que ele acabe logo, cada semana esperando pelo fim, cada ano aguardando pelas férias? Reclama que o salário é insuficiente, o chefe é um otário, os colegas são umas “malas”, a família é um tédio... e que há poucos momentos que realmente valem a pena — talvez assistindo a um filme, maratonando séries, rodando o feed das redes sociais ou jogando? Quantas vezes você sonhou com um salário maior, um emprego melhor, uma família perfeita, momentos de qualidade como uma viagem ou algo realmente int...

Gratidão ou desculpas?

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Neste Dia dos Pais, estando incluso nas celebrações da data, tiro um momento para “pôr no papel” uma espécie de confissão, cujo tema tem ocupado minhas reflexões na última semana e, de certa forma, remete a um sentido mais amplo de paternidade. Creio já ter citado meus “filhos feios” artisticamente ao mencionar essa expressão em um texto anterior, no qual falava sobre algumas músicas que gravei mas não publiquei em lugar algum. O motivo para não divulgar tais trabalhos é um amálgama de covardia e falso perfeccionismo. Não há dúvidas de que, primeiramente, eu sou um covarde por natureza. Não que tenha fugido de embates físicos ou verbais ao longo de minha história — muito pelo contrário. Consegui, com a maturidade, desenvolver uma personalidade que sequer suscita esse tipo de disputa, já que pouquíssimas coisas no mundo me são tão caras a ponto de motivarem uma briga física ou um debate verbal mais acalorado. Até porque, para a segunda hipótese, sequer haveria um oponente à altura par...

Grunge, black metal e MTV

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                                                    Grunge, Black Metal e a MTV                                                    Domingo, 03 de agosto de 2025 Não é segredo pra ninguém que a MTV teve grande impacto na cultura brasileira no início da década de 1990. Coincidentemente, eu estava na minha adolescência, e não tinha como não ser influenciado pela programação da emissora, já que as rádios seguiam as mesmas tendências. Para quem não se recorda, essa época marcou o auge do movimento oriundo de Seattle, grosseiramente chamado de grunge. Bandas como Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden, Pearl Jam e tantas outras concorriam com as já populares Guns N’ Roses e Metallica. Outros movimentos também tiveram um revival, como o ...

Para que serve a teoria musical

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  🎼 Para que serve a teoria musical, afinal?                                            ✍️  Por Kako Ramos                                              A pergunta que dá nome a esta postagem me foi feita inúmeras vezes — por curiosos, aspirantes a músicos e até por gente que só queria entender melhor o que ouvia. Por muito tempo, confesso, minhas respostas eram evasivas, recheadas de explicações prontas e clichês que não convenciam ninguém sobre a importância desse conhecimento, não só para músicos, mas para qualquer pessoa com o mínimo de curiosidade cultural. Hoje, após quase quatro décadas mergulhado no estudo, na prática e no ensino da música, posso oferecer uma resposta direta e contundente. Não prometo simplicidade — mas prometo honestidade, pois...

Adeus, Ozzy!

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  Ozzy Osbourne: Acima de tudo um ícone do heavy metal Por Kako Ramos Hoje, 22 de julho de 2025, o mundo se despede de uma entidade musical que atravessou décadas, estilos, polêmicas e revoluções culturais. Ozzy Osbourne morreu aos 76 anos, cercado pela família e por uma legião de fãs que, como eu, aprenderam a ver na música não apenas entretenimento, mas como uma forma de existir. Não é fácil escrever sobre alguém que, mesmo sem saber da minha existência, influenciou diretamente minha trajetória musical. Ozzy não era apenas um vocalista de uma banda clássica — ele era um artista único e inconfundível. Um símbolo de tudo que é visceral, imperfeito, intenso e, acima de tudo, verdadeiro. Sua voz característica e sua postura no palco não eram apenas performance: eram a tradução de uma alma inquieta que nunca se conformou com as próprias limitações (era disléxico) e teve diversos problemas de saúde devido ao uso de drogas e suas atitudes extremas. ⚡ O nascimento do metal e o ato ...

Realização

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  🎸 Entre o Som e o Silêncio: Uma Jornada Musical de Quase Cinco Décadas Por Paulo Kako Ramos Ao longo da minha jornada de quase cinco décadas, tive inúmeras oportunidades de conviver com pessoas pelas quais cultivei um carinho imenso. Mesmo que hoje não mantenha contato com muitas delas — por desencontros, distanciamentos ou rupturas inevitáveis — essas relações deixaram marcas profundas. Foram parte de um contexto que fez minha vida valer a pena, pelas lembranças que carregam. Curiosamente, a mentalidade dessas pessoas era muito parecida com a minha em relação ao futuro: havia um consenso silencioso de que viver era trabalhar em um emprego enfadonho ou extenuante, receber um salário e “existir de verdade” apenas nos finais de semana, nas férias ou na aposentadoria. O que me diferenciava, talvez, era a crença de que essa rotina não seria permanente. Eu confiava que minha paixão pela música me levaria além — que ela seria a ponte para transcender barreiras financeiras, cultura...

Revisitando os filhos feios

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  Revisitando os Filhos Feios: A Redenção Sonora das Demos Perdidas Por Paulo Kako Ramos Aproveitando uma pausa entre as atividades da faculdade e o trabalho na distribuidora, decidi ouvir alguns materiais que venho acumulando há mais de dez anos — gravações, mixagens, testes e fragmentos de ideias musicais que pareciam esquecidas num canto da memória (e do HD). Para minha surpresa, aquelas produções que sempre considerei abaixo do medíocre até me soaram bem. Talvez tenha sido o vinho que bebi, ou talvez a boa vontade que tem me movido diariamente. Mas o fato é que os defeitos se tornaram menos significativos, e as composições envelheceram com mais dignidade do que eu imaginava. Claro, tudo ainda está distante do que considero ideal. Tenho me dedicado com afinco aos estudos para aprimorar minha técnica, mergulhando cada vez mais fundo nos conceitos musicais. Porém, para quem cresceu sob a filosofia punk dos anos 1990 e tem como referência estética o black metal e o grunge, desp...

A transcendência através da arte

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Já escrevi alguns textos onde cito a tal transcendência, e li outros tantos sobre o tema. Isso porque, durante grande parte da minha vida, busquei entender os motivos que me fizeram tão aficionado por música — a ponto de deixar todo o resto em segundo plano. Para se ter uma ideia, aprendi a ler partituras e a tocar violão ao mesmo tempo em que aprendia a ler e escrever na escola. O encantamento começou cedo: fiquei impressionado com os “tiozinhos” da igreja tocando nos louvores e desejei fazer aquilo também. Mais tarde, ao assistir ao Metallica no Grammy de 1989, decidi que queria montar uma banda de heavy metal. A música me seduziu por um sentimento que extrapolava a razão. Naqueles tempos juvenis, eu sequer cogitava uma profissão ou tinha qualquer preferência racionalizada sobre assuntos importantes. Mesmo tendo alguns tios que tocavam instrumentos de forma amadora, a arte — seja música, literatura ou qualquer outra — nunca foi algo valorizado no seio da minha família. Foi a parti...

A forma perfeita de se comunicar

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Quando uma pessoa consegue completar o processo que consiste em contemplar, sentir, interpretar, interiorizar e expressar algo — como uma paisagem, um fato ou algo gerado pela imaginação — de tal forma que outra pessoa consiga apreender com maior precisão o que lhe foi transmitido, ela pode se considerar alguém que realmente sabe se comunicar. Entretanto, entre o objeto a ser transmitido e a percepção de um terceiro, existe um oceano de possibilidades de ruídos e obstáculos que podem truncar, distorcer e até mudar radicalmente aquilo que originalmente se quis compartilhar. Sendo assim, não basta ter habilidade de oratória, síntese ou precisão retórica: quem receberá a informação precisa estar atento e ser culturalmente compatível com quem a transmite. Imagine um japonês tentando informar um russo sobre conceitos complexos em seu idioma nativo. Exageros à parte, o parágrafo acima busca esclarecer que a comunicação depende de diversos fatores e que a linguagem extrapola as palavras de ...